quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Uma noite inesquecível


Tudo aconteceu numa noite fria de Janeiro (não são todas?!?).

Consegui ficar responsável por um projecto super inovador depois de muito esforço. Talvez fosse esta a mudança que a minha carreira tanto precisa. Mal podia esperar para chegar a casa e partilhar todos os pormenores com a Ju e claro que a minha amiga também ficou super feliz e disse logo:
-Temos que comemorar!
Decidimos jantar fora e sair para alguma discoteca. Claro que primeiro nos debatemos com o problema do costume – um orçamento muito limitado. Onde jantar e onde sair com 40€ (era final do mês) eis a questão.

Parecia que estávamos de volta aos tempos de Faculdade… Vestimos uns jeans, um top bem bonito e um casaco. Estávamos lindas e glamourosas e foi com essa confiança que entramos no restaurante chinês. Somos as únicas clientes e olhamos as mesas com desconfiança antes de escolher um lugar. Porquê o chinês? É barato, perto de casa e a comida é razoável. Que importa se esteve alguns meses fechado por motivos sanitários e que sempre que lá vamos há uma criança a chorar? (vendo bem às vezes é um pouco sinistro). A Ju que é uma esquisitinha nessas coisas come sempre gambas e fica descansada. Diz que a ela não a apanham a comer “gato por lebre”, neste caso porco ou galinha por gato ou cão. LOL. Prato do dia escolhido e água para as duas e o jantar ficou por 14€.
Dinheiro restante: 26€.
Fizemos umas contas de cabeça e + ou - 20€ para o táxi de ida e volta para a disco, sobram-nos 6€. 2€ para guardar as carteiras (levamos umas bem grandes para dentro caberem os casacos) e sobram-nos 4€ para beber qualquer coisa num bar para fazer horas… Na disco night como é noite da mulher não vamos gastar nenhum… Por isso sorrimos uma para a outra e satisfeitas e vamos procurar um barzinho…

Como já estamos na baixa acabamos por entrar num cafezinho assim meio pró tasca mas bastante acolhedor para dar início a uma noite que se prevê longa. Bebemos um café e um bagaço. Sim, um bagaço! A Ju anda outra vez com dores nos dentes e para não parecer mal acompanho a minha amiga :). O bafo com que ficamos não foi dos melhores, mas nada que umas pastilhas de mentol não resolvam…Como já disse a noite estava fria e até recebi bem esta escolha tão pouco usual. Já faz algum tempo desde que temos uma noite assim, sabem… just girls! Lol.

Depois de uma animada conversa com um grupinho que se juntou a nós decidimos despedir-nos e continuar a nossa noite numa das discos mais badaladas do momento. Contrariadas chamamos um táxi... É dinheiro muito mal gasto mas queremos beber e não temos alternativa… Afinal temos 4 bebidas grátis à nossa espera… Ser mulher traz mesmo muitas vantagens… Quem inventou a noite da mulher devia ser galardoado!

Finalmente chegamos ao nosso destino. A despesa ficou em 8,25€. Como sempre vamos logo ao wc retocar a maquilhagem, tirar o casaco e enfiá-lo dentro da carteira. É algo que temos que fazer neste espaço para não passar vergonhas lá fora. É chato porque enquanto esperamos na fila pela nossa vez quase morremos de frio. Mas antes assim do que passar pela humilhação de ter o casaco vestido e no momento de guardar a mala, tirá-lo e enfiá-lo lá dentro à vista de todos…
Enquanto esperamos olho para o cartão e quase tenho uma apoplexia. Nele escrito posso ler: Consumo mínimo 7,5€. Não consigo reagir. Olho para a Ju que conversa animadamente com uns conhecidos que encontrou… Tenho que fazer alguma coisa!!!

- Desculpem – digo, interrompendo duas raparigas que esperavam na fila – mas hoje não é noite da mulher?
- Ah, não! Primeiro era neste dia, mas há cerca de um mês passou para a Quinta!
Sorrio como se me fosse indiferente quando a minha vontade é fazer sei lá o quê… Agora já estamos lá dentro e não podemos fugir…
- Ju, não te importas de vir ao wc comigo?
A Ju olha para mim intrigada…
- Jess, acabamos de sair de lá. Vamos perder a nossa vez na fila…
- Ju, anda…
Ela nem contesta, já percebeu que algo se passa.
Quando lhe conto a situação ela fica pior que eu…
- Não acredito! Durante anos este era o dia da noite da mulher! Nem olhei para o cartão de tão certa que estava… Desculpa Jess…
- Agora não há nada a fazer. Vamos ter que arranjar uma solução…
Entramos para um dos cubículos do wc, sentamo-nos nas sanitas (ao menos tem duas) e tiramos novamente os casacos das carteiras…
- Ora bem- diz Jess- vamos ver o dinheiro que temos…
- Não vai dar para tudo – diz a Ju desanimada - Ou pagamos os cartões e ficamos sem dinheiro pró táxi ou temos dinheiro para o táxi e não podemos pagar os cartões!
- Podemos sempre ver se vemos alguém conhecido e pedir dinheiro emprestado…
- Jess, estás louca! Nunca passaria essa humilhação! Olha, vamos ser positivas. Temos 15,75€! Vamos beber uma bebida cada uma, só UMA Jess! E arranjamos maneira de beber à borla e quanto a ir para casa logo se vê. Pode ser que arranjemos boleia. Não vamos deixar que isto nos estrague a noite! Afinal estamos aqui para comemorar! Vamos mas é beber uma vodka para ficarmos mais calmas…

E assim foi… Tínhamos que fazer a vodka render e fomos pedindo uns shots aqui e ali… Quando demos por ela já estávamos um bocadinho animadas.
A Ju foi à casa de banho e quando regressou vinha com uma cara que eu já conheço bem e perguntei logo o que andou a tramar.
- Observa e aprende – diz ela…
Vejo-a a ir em direcção ao balcão e fingindo ser empurrada derrama a bebida para cima das pernas de um rapaz que estava encostado…
- Ai, desculpa! Esta gente só empurra! As tuas calças! E a minha bebida!
Esta rapariga não existe… Claro que o rapaz não se importou com as calças e insistiu em pagar-lhe uma nova bebida. Ela entretanto chama-me e ele cavalheiro como é ofereceu-me também uma a mim. Quando ao ouvido ela me diz que foi ao wc encher o copo com água quase me desmanchei a rir mas tinha que manter a compostura.

A noite foi muito divertida, este golpe foi aplicado em mais umas vítimas, as horas iam passando e não sabíamos ainda como íamos para casa!
Eis que, como por milagre encontramos uma amiga/conhecida do nada. Estava lá com o namorado ou engate mais recente (decidimos por bem não fazer perguntas comprometedoras) e estavam com carro. Quando explicamos que a nossa amiga teve um problema familiar e teve que ir para casa mais cedo (vou para o inferno por mentir assim) prontificam-se a dar-nos boleia.

-Não é preciso, não queremos importunar!
-Sim, nós apanhamos um táxi – completa a Ju, com ar conformado (é muito boa actriz).
- Nada disso, não há problema algum – responde a Marta.
- Por acaso até há – explica o João, o namorado/engate – têm que ir na mala.
(Eu e a Ju trocamos olhares alarmados)
- Mas o carro é comercial e a mala é bem grande, já levei amigos antes, não há nenhum problema.

Reprimimos um suspiro de alívio e depois de buscarmos os nossos haveres ao bengaleiro seguimos o casal até ao estacionamento. O carro era um Renault Mégane e a mala por sinal era bem espaçosa. Finalmente a nossa noite atribulada tinha fim à vista. Ou não. Uns 500m mais a frente fomos parados. Por uma fresta na cobertura da bagageira podíamos ver as luzes cintilantes dos vários carros da polícia que controlavam a operação stop.

- Fiquem quietas – avisou o João antes de baixar o vidro.
- Os seus documentos e os da viatura se faz o favor! – disse o agente.
Conseguia vê-lo de esgueira e na placa de identificação li “Meireles”. Era este o nome do nosso carrasco. Esta noite estava a ficar cada vez pior. O agente Meireles analisou os documentos e pediu para o João sair do carro, tinha que fazer o teste do balão.
-Bebeu alguma coisa esta noite? – perguntou.
-Só uma ou duas cervejas – o João respondeu atrapalhado (eu só o vi beber whisky).
-Sabe que com este valor não devia estar a conduzir, porque coloca a sua vida e a dos outros em risco!
-Será que eu não posso levar o carro? – questiona a Marta.
-Pode claro – responde o agente – mas só se estiver em condições para tal! – e passa-lhe o balão.
A Marta tinha ainda um valor mais alto que o João! Já adivinhávamos o nosso futuro. O carro seria rebocado e nós duas morríamos na mala, de hipotermia ou de outra coisa qualquer. Sim, porquê se os agentes soubessem da nossa existência na mala a autuação seria bem mais grave.
O João tinha uma taxa de 0,78 e a Marta de 0,90 o que era bem grave, mas neste momento estávamos mais preocupadas com o nosso destino! Foi quando voltei a concentrar-me na conversa que percebi a negociação dos dois.
-Oiça Sr. Agente Meireles, o meu namorado soube há poucos dias que entrou no concurso para a GNR, não pode passar essa multa. E o senhor tem toda a razão, não estamos em condições de conduzir. Eu ligo a minha mãe e ela dá-nos boleia até casa.
-Sim, uma coisa destas fica sempre mal em início de carreira - começa também o João a apelar à boa vontade do agente – e daqui a uns meses somos colegas…
O agente estuda por alguns momentos a proposta dos dois, parece que todos nós sustemos a respiração.
-o que posso fazer é deixá-los estacionar ali à frente enquanto esperam pela mãe da moça. Desta vez passa, mas que não se repita.
-Isso! Nós até aproveitamos para descansar um pouco enquanto a minha mãe não chega.
-E agora? – pergunta a Ju.
-Agora ficamos aqui até que a operação stop termine e depois levo-vos a casa – explica o João.

A temperatura exterior devia estar negativa e na mala não estávamos muito melhor. O João, segundo indicações do agente não podia ligar o carro, por isso nada de ar condicionado. Eu e a Ju tremíamos por todo o lado. Tirei umas luvas da mala, e entreguei uma a Ju. Sei que parecíamos ridículas e que uma luva pouca diferença faz… A Ju tinha as pernas dormentes e queria abrir a mala, mas não podíamos. Os agentes ainda estavam a trabalhar mesmo ali ao lado e ainda por duas vezes o agente Meireles bateu no vidro do carro e perguntou pela mãe da Marta.
- Está mesmo a chegar. Ligou agora! Tem auricular, claro que não ligou a conduzir – tentou desculpar-se. Se a situação não fosse tão dramática até ria, a Marta a desculpar a mãe para salvá-la de uma multa, quando a senhora devia estar a dormir descansada na aldeia a km dali.

Levamos perto de uma hora neste suspense… O casal da frente não perdeu a ocasião e lá ia curtindo para ajudar a passar o tempo. A Ju resmungava, ameaçando sair da mala a qualquer momento e eu imaginava vários cenários, cada um mais negro que o anterior.

A Ju só dizia que quando fossemos embora se um carro batesse por trás nos esmagava o crânio. Bem queríamos sair dali mas se o fizéssemos o rapaz pagava a multa na certa pois os polícias não arredavam pé.
Finalmente a operação terminou e o João conduziu-nos até casa.

O frio e a espera dissiparam qualquer efeito que o álcool pudesse ter tido em nós. O caminho até casa, normalmente dificultado pela parca iluminação pública, foi feito com passos apressados. O vento que soprava era leve mas de um frio cortante. Ajeitamos os casacos ao corpo, pois os tops sensação da noite ofereciam agora pouca protecção para uma noite gelada, fora do calor e do frenesim de corpos suados da discoteca, que já havíamos deixado há muito.

Enfim chegamos a casa, de uma noite inesquecível, mas não pelos melhores motivos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Agadir- Marrocos: Dicas de Compras



Decidi escrever este post para dar umas dicas muito úteis e conselhos valiosos a quem está a pensar um dia ir a Marrocos, mais propriamente a Agadir. Não vou generalizar, porque certamente que em outras zonas as coisas devem processar-se de maneira diferente.
Ora bem… Evidentemente, este meu post está mais direccionado para compras em Marrocos. Aquelas lembrancinhas que queremos sempre trazer, uma coisinha aqui, outra ali e quando vamos a ver já pedimos a Alá que se compadeça e que não tenhamos excesso de peso na bagagem…

Regra nº 1: Regatear.

Quer gostem quer não, vai ter mesmo que ser. Até porque a maior parte dos marroquinos não diz o preço. Se mostram interesse em alguma coisa o vendedor pergunta quanto está disposto a dar. LOL. Eventualmente, se a pessoa insistir em saber o preço, ele dirá um valor exorbitante que lhe dará vontade de rir e mandá-lo dar uma volta. Mas é mesmo assim. Então aí tem que se dizer um valor que estaria disposto a pagar, mas atenção, aqui é necessário (e digo isto por experiência própria) dizer um valor bem abaixo do que estamos dispostos a dar. Isto porque enquanto ele vai descendo o preço dele nós vamos subindo o nosso. Regra geral o preço deve rondar um terço ou até menos do valor por eles pedido (é, eles são mesmo trafulhas).
Sinceramente, o conselho que dou é comprarem as lembranças no aeroporto. Eu fartei-me de regatear e quando fui a ver no aeroporto tinha tudo a preços acessíveis e sem ter que passar por essa maçada. Sim, porque negociar com um marroquino é uma maçada mesmo! É extenuante!
Acredito que nos centros das cidades, nos grandes mercados e zonas mais pobres não seja assim mas eu estou a falar da zona em que estive.

Regra n.2: Mostrem interesse só se estiverem mesmo interessados.

Ao mostrar interesse em alguma coisa vai ser difícil não comprar, pois eles são mesmo muito melgas e não vos vão largar tão cedo.
Mesmo que achem caro e digam que não querem eles vão insistir até chegarem a acordo.
Eles gostam muito de valorizar o produto que estão a vender chegando a exagerar um bocadinho e subindo o preço. É trabalhado à mão, é prata marroquina (toda a gente sabe que acaba por deixar vestígios verdes na pele), é isto e aquilo, digam que sim, é muito lindo, mas não cedam e mantenham-se firmes no valor que pretendem pagar. Se for um vendedor ambulante (na praia, por exemplo) ele pode ir embora, mas passado um tempo voltará para fechar o negócio… Eh eh. É tudo esquema para subir um pouco o preço…

Regra n.º 3: No aeroporto de Casablanca não comam no “Flying Burger”

São uns trafulhas manhosos do pior. Tiveram a lata de me enganar no preço só porque ia pagar em euros. Eu ia comer um menu que estava marcado com um determinado valor. Para me certificar perguntei se o menu incluía bebida e batata, a moça disse que sim. No final apresenta-me uma conta maluca. Eu questionei o valor e ela atrapalhou-se toda e disse que era assim. Como ela não falava bem inglês, eu não falava bem francês e muito menos árabe e não tinha como fazer queixa deixei ficar assim, rogando-lhe no entanto uma praga e jurando vingança. Nem que seja má publicidade aqui. Lol

Regra n. 4: Não entrem em lojas só para ver

O mais certo é não conseguirem sair de mãos vazias. E não, não pensem que digo isto porque sou uma maluca viciada em compras. Eles são mesmo muito insistentes. E partem do princípio que se entram na loja deles é porque querem comprar algo.

Regra n. 5: Se falarem em inglês com eles sublinhem que são portugueses

Sim, porque acreditem que vai fazer diferença. Eles sobem logo o preço se for uma pessoa inglesa ou alemã. E eu digo isto porque fiz o teste. E um confessou mesmo que se fosse para um alemão era x mas para mim era y…

Haveria certamente mais a dizer mas já estou farta de escrever. Qualquer dúvida, perguntem que eu respondo. Ah, apesar de tudo isto, adorei conhecer Agadir! É maravilhoso, o clima, a comida, a cultura tão diferente… Recomendo!